quarta-feira, junho 30, 2010

pescador de alma

maiakovski
fala
que o poeta
é um pescador de alma
como
não sou poeta
sou uma ribeira
a ancorar
o meu barco
na sua cidade
a procura
do seu corpo
de sereia

Oreny Júnior

nas pegadas dos nossos olhos

nas pegadas dos teus olhos
eu sou puro silêncio
nas pegadas do teu corpo
eu fui ontem
hoje eu sou ausência
nos apertos das nossas mãos
amanhã eu serei calor
serei mais uma derme
que dorme no sonho do reencontro
nossos pelos adormecem
hibernam
ninam
nenen

Oreny Júnior

domingo, junho 27, 2010

des(encontro)

nem sempre as curvas
que as palavras tomam
levam ao lugar perfeito
muitas vezes o desencontro
das horas é o hangar
de um sentimento

Oreny Júnior

quinta-feira, junho 24, 2010

liquida-se

liquida-se
palavras
verbos não conjugados
liquida-se
a preço de banana
a não compreensão
liquida-se
a todo custo
o não amor à poesia
liquida-se
garrafa com pingo de suor
do nosso último beijo
liquida-se
um mar que tentei te dar
e você não recebeu
dizendo
falta o sal do nosso tempero
liquida-se
uma emoção não sobrevivida
liquida-se meu amor
liquida-me

Oreny Júnior

quarta-feira, junho 23, 2010

é noite de são joão

era noite de são joão
as fogueiras em labaredas
fogos amarelos
bailavam a rua da minha infância
há essas horas
minha mãe já preparava a canjica
distribuia alguns pratos à vizinhança
e tudo era movido a alegria
era noite de são joão
traques, rojões, foguetões
os olhos ardiam de tanta fumaça e calor
mas era nosso sonho
era noite de são joão
hoje será noite de são joão
nenhuma fogueira
nenhuma canjica
rojões avisto a distância
acorda meu pai
é noite de são joão
chega mamãe
tá faltando a canjica
é noite de são joão

Oreny Júnior

terça-feira, junho 22, 2010

aonde quer que eu vá

aonde quer que eu vá
quero uma natal só pra mim
quero um sábado a tarde
na esperança só pra mim
aonde quer que eu vá
quero você junto comigo
quero meus livros de cabeceira
quero-os só pra mim
aonde quer que eu vá
quero a minha infância juntinho de mim
quero o meu sorriso
não discreto, mas escancarado só pra mim
aonde quer que eu vá
quero a lembrança dos belos amigos só pra mim
aonde quer que eu vá
quero o café da maga na calçada só pra mim
aonde quer que eu vá
quero o canto da sabiá
o açoite do galo de campina só pra mim
aonde quer que eu vá
sei que é bem ali
mas quero a volta voando só pra mim

Oreny Júnior

domingo, junho 20, 2010

dona militana

dona militana
que você navegue
para sempre
nessa nau catarineta
são gonçalo
abençoe essa menina
cheia de contos
e encantos encantados
contará causos
juntos dos irmãos
julião, chico daniel, cascudo
obrigado dona militana
a minha terra
está menos terra
sem a sua sabiá

Oreny Júnior

sexta-feira, junho 18, 2010

...a saramago

a saramago(in memorian)

deus de um sentimento
dormes agora
com tuas putas
não mais tristes
risonhas como as palavras
quando as abraçavam
e soltavam de poesia a dentro
como pombas
em rebanhos
ao vento
cinzas
ao vento

Oreny Júnior

as palavras se invernam

as palavras se invernam
no frio da cama
o verbo se acasala
nos edredons
de ventos frios
em rios de sangue
as palavras se esquecem
e nós nos esquecemos do tempo
do rio que nos leva
além estações
as palavras se aninham
e na anilha
a marca do teu beijo
do teu nome
o ouro é amarelo
como o sol vindouro
derretendo a neve
dos nossos olhos
aquecendo nossa alma
no agasalho da nossa carne
da nossa pele

Oreny Júnior

domingo, junho 13, 2010

Natal

não sendo sena
sou potengy
não sendo nilo
sou jundiaí
sou ceará mirim
piranhas açú
cabugi
pataxó
mossoró
não sendo eu
sou você
iara de todas as águas
de todas as serras
sendo rocas
sou esperança
alecrim
enfim
sou atol
ribeira
de todas as praias
arpége de todos as noites
cabaré
de todas as crenças
não sendo roça
sou cidade
sou paçoca de pilão
farinha d'agua
sou redinha
de seu osmar
sou poesia
sou ninguém

Oreny Júnior

sábado, junho 12, 2010

doce infância

ato inicial
algodão doce
cavaco chinês
din din
cocada
goiaba tirada do pé
pipoca
caldo de cana
tapioca com peixe frito
na feira da cidade da esperança
ato final
namorar o meu amor
na lagoa de pitangui
anos oitenta
tudo isso
chama-se felicidade

Oreny Júnior

sexta-feira, junho 11, 2010

ao dia dos namorados

pra que te dedicar
meras palavras
ao dia dos namorados
se não namoro mais contigo
se não moro mais contigo
se não posso te dar um beijo
um abraço de homem suado
pra que te dedicar meras linhas
de palavras cansadas em um blog enfadonho
pra que te dedicar sutilezas
se não posso deixar moléculas do meu abraço
em seus braços
pra que te dedicar luzes da ribalta
se nossos olhos não mais se encontram
pra que meu amor
a veneza já não está mais dentro d'agua
o sertão deixou de ser catingueiro
e no mar existem edifícios dentro dele
pra que te namorar
se não posso te ver
se não posso te ver de cabelo assanhado
de hálito recem acordado
pra que meu amor
dedicar as mentiras
eu te amo
i love you
pra que
se nossos encontros estão restritos a webcam
e fotos impressas 12 x 7
a nossa filha diz que
o pensamento é a menor distância
nem sempre meu amor
distância e pensamento é igual a saudade
e muitas vezes
a saudade é doença sem cura
maga
minha maga
minha puta magra
dona dos meus sonhos e pesadelos encantados

Oreny Júnior

quarta-feira, junho 09, 2010

a última canção

a franklin

que me leve
junto com a sua canção
quero andar junto contigo
nos teus passos bêbados
traçando polígonos
entre a ceará
e a rio grande do norte
que me leve
na sua poesia
cancioneiro potiguar
quero escorregar
nos acordes desse suado violão
já não vomito mais poesia
não as vendo por um real
desgostei da dorothéa
a toalha?
serve pra enrolar
a saudade que sinto de ti
da fumaça do seu derby
da loira eternamente gelada
êta saudade que mata
do papel dobrado no bolso
uma poesia, uma canção
das recomendações musicais
los hermanos
vander lee
quero recitar novamente
o primeiro poema
que passei pra você musicar
"núcleo, citoplasma, casca"...
meu poeta maior
mais que natal
uma esperança real

Oreny Júnior

domingo, junho 06, 2010

meus pais...abenção????????

09/05/1935
nascia meu pai
pau dos ferros
alto oeste potiguar
05/11/1940
nascia minha mãe
barra da espingarda
caicó
sertão seridó
por volta de 1960
os dois cruzaram olhares
em natal
vila coronel estevam
avenida nove
alecrim
eu nascí olhando pro mar
januário cicco
e no mar me encontro
catando estrelas
que caem do céu
meu pai
minha mãe
meu casulo
de poema
meus anjos
de guarda
abenção?

Oreny Júnior