segunda-feira, agosto 31, 2009

butterfly

anuncia-se
setembro
palavra chave
primavera
agosto
se vai
com ele
daqui uns dias
inverno
que veio
lavando tudo
troncos
folhas
raízes
agora
a florada
anuncia
a poesia
colorida
a poesia
multi verde
in color
uma poesia
aborboletada
butterfly

Oreny Júnior

quinta-feira, agosto 27, 2009

gruta

da sua gruta
corre um líquido
jorrante
onde inunda
pés
olhos
todo o meu eu
nesse
líquido
percorro
um poema
com esses
dedos
canhotos

Oreny Júnior

terça-feira, agosto 25, 2009

gotas

gotas presas
são águas
represadas
gotas livres
são oceanos
descendo
sertão abaixo
molhando
meu pé de mamão
gotas
chorosas
desanuviando
esse coração
árido
gotas
moléculas
moleques
atravessando
numa só braçada
um continente
de marés
de mares
profundo

Oreny Júnior

segunda-feira, agosto 24, 2009

joão sertão

joão sertão
joão de um amor catingueiro
expressando na lapela
a flor de açucena
joão
de um cigarro brejeiro
de uma inocência única
seu joão
de um amor divino
respeitoso
na estrada
um caçuá
cheinho de lembranças
agrestes
mato grande
oeste
seridó
litoral até
seu joão
no bizaco
nambú
com farinha seca
e água de quartinha
joão rasgando veredas
juremas entrelaçadas
gado espinhoso
joão cansado
cara enrugada
bom dia seu joão
que deus seja louvado
agora e para sempre
amém

Oreny Júnior

sábado, agosto 22, 2009

perdemo-nos

perdí-me
do seu caminho
não lembro mais
a estrada que nos encontramos
um dia
esquecí seu cheiro
seu perfume preferido
não lembro mais
perdí-me
do seu caminho
meu caminho
perdido
não sei mais
o volume
de saliva
que continha seus lábios
perdí-me
do seu caminho
meu ex-caminho
seu gosto
sua posição preferida
perdí-me
sem norte
sem sorte
perdí-me
perdomo-nos
não reconheço
mais seu vestido
quando vestias
sem calcinha
perdí-me
do seu rosto
quase infanto
amava
quando sacana
perdí-me
dos seus desejos
só poesias
em camas solitárias
perdí-me
de tú
menina
maga
quando certo dia
recitei
porque gostas de mim
puta magra
perdí-me
perdemo-nos
dia após dia
eles nos derrotam
nos massacram
nos fodem
a lua
não é mais branca
nem o sol
mais amarelo
nossos olhos
agora
estão
côncavos
convexos
perdemo-nos
garota
a estrada
e a distância
ganharam
não soubemos jogar
nos encontrar
somente

perdermo-nos

Oreny Júnior

segunda-feira, agosto 17, 2009

paralelepípeda poesia

paralelepípeda
poesia
paralelas
pedras
de
engenharia
versos
on the road
traços
métricos
milimétricas
letras
pisadas
deixando
para
trás
rascunhos
da
saudade

Oreny Júnior

sábado, agosto 15, 2009

Jandaias, Perdizes

jandaias
perdizes
fizestes
desse
dia
o
melhor
dos
poemas
visuais
e
agora
transformo-os
em
grafia
essa
magia de letras
que
voam
e
adormecem
nas páginas
em
vogais
consoantes
letras
não traduzidas
jandaias
perdizes

Oreny Júnior

domingo, agosto 09, 2009

meu pai

meu pai
peço licença pra falar contigo
sua benção
todos os dias que ficaste nessa vida
em nenhum deles
deixaste de nos proteger
a mim e a todos os meus irmãos
com o muito que desejaste ter
com o pouco que lhe foi concedido
mas o suficiente para o nosso acalanto
para saciar a nossa fome...
obrigado meu pai
por tudo
sou sincero
queria um pouco mais
a sua presença
o seu sorriso
seu jeito moleque
de encarar a vida
juro
que queria um pouco mais
mas...
a vontade não é nossa
mas
a do pai maior
não se esqueça
qualquer dia
nos veremos
um lembrete
o nosso ABC tá ruim das pernas
o FLUZÃO também
beijos
seu filho chorão

Oreny Júnior

quarta-feira, agosto 05, 2009

cara criatura

cara
criatura
caricatura
criador
rabisco
color
basquiat
poema
desenho
imaginário
muralhar
o esqueleto
falante

Oreny Júnior

sábado, agosto 01, 2009

Os Estatutos do Homem

Os Estatutos do Homem(Acto Institucional Permanente)
Artigo I Fica decretado que agora vale a verdade. Agora vale a vida e, de mãos dadas, marcharemos todos pela vida verdadeira.
Artigo II Fica decretado que todos os dias da semana, inclusive as terças-feiras mais cinzentas, têm direito a converter-se em manhãs de domingo.
Artigo III Fica decretado que, a partir deste instante, haverá girassóis em todas as janelas, que os girassóis terão direito a abrir-se dentro da sombra; e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro, abertas para o verde onde cresce a esperança.
Artigo IV Fica decretado que o homem não precisará nunca mais duvidar do homem. Que o homem confiará no homem como a palmeira confia no vento, como o vento confia no ar, como o ar confia no campo azul do céu.Parágrafo único:O homem, confiará no homem como um menino confia em outro menino.
Artigo V Fica decretado que os homens estão livres do jugo da mentira. Nunca mais será preciso usar a couraça do silêncio nem a armadura de palavras. O homem se sentará à mesa com seu olhar limpo porque a verdade passará a ser servida antes da sobremesa.
Artigo VI Fica estabelecida, durante dez séculos, a prática sonhada pelo profeta Isaías, e o lobo e o cordeiro pastarão juntos e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.
Artigo VII Por decreto irrevogável fica estabelecido o reinado permanente da justiça e da claridade, e a alegria será uma bandeira generosa para sempre desfraldada na alma do povo.
Artigo VIII Fica decretado que a maior dor sempre foi e será sempre não poder dar-se amor a quem se ama e saber que é a água que dá à planta o milagre da flor.
Artigo IX Fica permitido que o pão de cada dia tenha no homem o sinal de seu suor. Mas que sobretudo tenha sempre o quente sabor da ternura.
Artigo X Fica permitido a qualquer pessoa, qualquer hora da vida, uso do traje branco.
Artigo XI Fica decretado, por definição, que o homem é um animal que ama e que por isso é belo, muito mais belo que a estrela da manhã.
Artigo XII Decreta-se que nada será obrigado nem proibido, tudo será permitido, inclusive brincar com os rinocerontes e caminhar pelas tardes com uma imensa begônia na lapela. Parágrafo único: Só uma coisa fica proibida: amar sem amor.
Artigo XIII Fica decretado que o dinheiro não poderá nunca mais comprar o sol das manhãs vindouras. Expulso do grande baú do medo, o dinheiro se transformará em uma espada fraternal para defender o direito de cantar e a festa do dia que chegou.
Artigo Final Fica proibido o uso da palavra liberdade, a qual será suprimida dos dicionários e do pântano enganoso das bocas. A partir deste instante a liberdade será algo vivo e transparente como um fogo ou um rio, e a sua morada será sempre o coração do homem.
Thiago de Mello, Santiago do Chile, Abril de 1964