quarta-feira, novembro 25, 2009

nos olhos...

nos olhos
um farto
pomar verde
nos olhos
um movimento
retilineamente
uniforme
nos olhos
uma estrada
uma rotina
na alma
uma vontade
de desorganizar
não quero
colírio nos meus olhos
quero sono
e sonho
sonho onde eu possa
me perder
e me achar
achar-me nos primeiros galhos
das árvores dos nossos passados
genealógicos
um sequilho vindo de são rafael
pelo carteiro meu pai
o apito do trem
próxima estação?
esperança rascunhada de poesia
nos olhos um conto
cem contos
um poema
nos becos
pés descalços
sangue bêbado
nos olhos
você...minha filha
rasgando as idiotices alheias
nos olhos
uma pinga
lábios
língua
avermelhando
o desejo de te abraçar
nos olhos
um clique
fotografando seu sorriso
isadoramente bela
nos olhos
você

Oreny Júnior

domingo, novembro 15, 2009

sinto falta...

sinto falta
do poema
escrito no papel
sinto falta
da raspagem do papeiro
sinto falta
dos banhos de chuva
sinto falta
dos deveres de casa
sinto falta
do acordar de madrugada
com o choro do filho novo
sinto falta
do feijão com charque
feito por minha mãe
sinto falta
das festas da padroeira
da cidade da esperança
sinto falta
de ver papai
tratando seus passarinhos
sinto falta
do horário intermediário
no celestino pimentel
sinto falta
da molecagem descompromissada
sinto falta
dos vinil
quando vandré chorava
em suas músicas
sinto falta
dos caldeirões
em dias de sábado
doado pela saudosa
joana guedes
sinto falta
dos meus amigos
que sorriam
e não conheciam
a tristeza
nem tanquanto o choro
sinto falta
quando cheguei bêbado
na maternidade
para conhecer meu primeiro filho
sinto falta
das meladinhas do nazi
sinto falta
de seu joaquim
do picado na feira
sinto falta
de ti
de mim
de nós

Oreny Júnior

quinta-feira, novembro 12, 2009

canções

a canção
derradeira
foi o último
trago
desse cigarro
estragado
com marcas
de batons
vencidos
onde o beijo
deixou
de ser beijo
e a canção
primeira
é a estrofe
nupcial
do nosso
penúltimo
encontro

Oreny Júnior

segunda-feira, novembro 09, 2009

joana guedes

choveu pétalas
no céu
para receber
joana guedes
matriarca angicana
a flor de mandacarú sorriu
o sertão sorriu
o gibão a cobriu
do sol
dos espinhos
dos frios
vividos
de sertões
em sertões
ela cria
o sertão vai virar mar
vai sim senhor
um mar de mãe
mãe dos afoitos
amigos meus
joana
flor da açucena

Oreny Júnior
(a joana guedes, in memorian)

sexta-feira, novembro 06, 2009

passados...

passados
os contos
restam-nos
os cantos
cânticos
assoletrados
harmoniosamente
na nossa alma
passados
os cantos
restam-nos
os contos
contados
causo a causo
na nossa mente
passados
os contos
os cantos
sobra
a poesia
contada
cantada
na nossa língua
de poeta

Oreny Júnior

o silêncio...

o silêncio
me embebeda
nessas paredes
que nada falam
meros 4 x 4
paredes frias
que transpiram
torturas
acordo
na ressaca
da saudade
sem cura
o silêncio
ator principal
quando se perde
a grande amada
o silêncio
filho da puta
esse
silêncio

Oreny Júnior

quinta-feira, novembro 05, 2009

parabens dona zefa

felicidades
dona josefa
parabens
minha mãe
essa mulher
que não desiste
de lutar
de sorrir
parabens mamãe
essa mulher seridó
de poesia analfabeta
colocou-me num banco de escola
fazendo da aridez da sua terra
a esperança de um futuro
aos seus filhos
parabens dona zefa
hoje
degusto o paladar da sua cocada
a água que hoje bebo
foi o ponto certo do doce cocadeiro
parabens mãe
não sou só seu filho
sou seu poeta
sou seu fã

Oreny Júnior
(em homenagem ao aniversário da minha mãe, dona zefa)