terça-feira, março 31, 2009

Guardanapo

guardanapo
nos lábios
é paixão
na mesa
é poesia
guardanapo
manchado
de sangue
e suor
é o que
se tem de melhor...
o guardanapo

Oreny Júnior

segunda-feira, março 30, 2009

Conto de réis

no quarto
um conto...
de réis...
conto
da moça triste...
réis
em paredes frias...
frias como seus olhos
aflitos
como seu coração
sem flor...
a sombra das raparigas em flor
ou
memórias de minhas putas tristes...

Oreny Júnior

Cio

um mijo
um cheiro
um rincho
um cio
de sertão
chão mijado
de desejos
a vereda
abre-se
os brutos
dizem
eu te amo...

Oreny Júnior

quinta-feira, março 26, 2009

Dor braba

dor braba
essa tal de saudade
choro até
os olhos fazerem bico
bico de peito de moça
sangrando desejos
contidos na deseperança
do seu bem...

Oreny Júnior

terça-feira, março 10, 2009

Grão

um grão
de sílabas
formando
oceano de palavras
parafraseando
o verso
ditado
na boca do ouvido
no cú da mente
mente
mente
bela...

Oreny Júnior

segunda-feira, março 09, 2009

A mulher que hoje ví

a mulher que hoje vi
carregava em si
uma trouxa na cabeça
um menino sendo puxado
um outro carregado na barriga
mancava com as pedras secas
cansada no destino
não conhece salão de beleza
nem tão quanto
se existe o que chamam
dia internacional da mulher
a mulher que hoje vi
vinha de um riacho
onde foi lavar panelas e roupas
molambos de algodão
parou em frente ao seu barraco
e descansou em pé
a mulher que hoje vi
sorriu
não sei pra quem
nem pra onde
mas
sorriu
a mulher que hoje vi
carregava
além da trouxa
dos cacarecos em alumínio velho e amassado
os meninos
que engatinhavam no chão
e na bolsa líquida
encardida...
carregava um ar de esperança
esperança que só ela conhece
que só ela vê
a mulher que hoje vi
mora aqui ao lado
mora na nossa exclusão
mora em todo sertão
é doméstica do senhor patrão
a mulher que hoje vi
tem prazer, libido e sexo
a mulher que hoje vi
é uma mulher
é a mulher...

Oreny Júnior
(ao dia internacional da mulher)

sexta-feira, março 06, 2009

Quisesse

o que se eu quis
se eu quisesse
ser-me-ia
não sei
bem melhor
ou mal pior
seria
se eu soubesse
que você
não quis
mas
você...
se quis
eu não sei
sonhei
que você quis
o que bem quisesse
seria
e
ria-me
rir-me
de ti
de mim
o mundo
rir
num só gesto
num só não

Oreny Júnior

Um olhar negro

um olhar negro
fosco
opaco
sobre a cinza cal
que demarcou
um espaço
que chamei de barraco surreal da paixão
um olhar em branco azul
sob um mar
em verde mar
onde me escondi
nas algas púbeas da paixão
um olhar
só um olhar
no vazio dessa poesia
que clamo de paixão

Oreny Júnior

Manguesal

um poema de amor
e sal
um contexto
de água e sal
mangue
meu extrato
minha floresta
de homens
em locas
no hábil
desejo
da fome
manguesal
minha manga
em crustáceo doce
meu equilíbrio
desequilibrado
um mangue
em uma cidade
era um mangue
em minha cidade
manguesal
porta do oceano
meu atlântico
meu mangue
saudade
quando digo
aqui era um mangue

Oreny Júnior

A moça e a lata

a moça berrava
falava alto
não com um ser humano
mas com uma lata
era sua rota de fuga
seu ator passivo
de uma ação
diria
escape
a moça e a lata
companheiras quase inseparáveis
a moça dava banho na lata
colocava-a pra dormir até!
moça bela
lata feia
ou moça feia
e lata bela
era o conceito
de uma para outra
o respeito
que muitas vezes
os seres humanos
não tem
uns com os outros.
eram conselhos
avisos
broncas
recados
declarações
dúvidas
tudo isso
a lata ouvia da moça bela
ou da moça feia!
mas
o que é que eu tenho a ver com isso?
é que a moça
mora vizinha ao meu quarto
e a lata
bom
coitada da lata
a moça
arrancou meus ouvidos
para por na lata
ou melhor
a lata sou eu!

Oreny Júnior

Prostituta bela

a ti prostituta bela
que esperneia
nesse mar de esperma
a espera flutuante
desse leite escaldante
embebida
e mergulhada
no mar
no maremoto da vida
entre marés
silencias
o desejo incontido
num vazio
num vaso
sem flor
a ti prostituta bela
leio
e deleito-me em seus versos
e reversos
na história
de estórias reais
é para você
prostituta bela
que escrevo nesse branco
cor do seu leite
papel
no papelão da cama
da cana
na canalhice
velhice
que deixaste de ser
a prostituta bela

Oreny Júnior

(ao dia internacional da prostituta)

Céu

seu céu
é o meu céu
o meu véu
meu veludo
de papel
céu aberto
em palavras
caídas da gravidade
estranhamente prenha
de desejos
seu céu
é o meu cadáver
a ver
o céu
que escureceu dentro de mim
seu céu
é o meu inferno
onde cuspiste
labaredas em gotas ácidas
céu de Cecéu
o céu da boca
que comi
na pura antropofagia
de uma Lolita
seca
e órfã
de um Platão
em poesia

Oreny Júnior

Coco

coco
com quenga
é doce
doce de quenga
é açúcar
pudim de menino
é cocada
coco branco
coco queimado
é coco de quenga
coco de roda
é coco
pra tudo que é lado
é tanto coco
que é coco adoidado
coco de dendê
é coco pra dá e vender
coco de castanhola
coco de babaçu
na minha terra
tem um rio piranhas
que chamam
até de assú
é coco
seco
coco
seco
coco
seco
seco
coco
se...
co


Oreny Júnior

Galaxear

galaxear
o uni
em verso
de galáxia
galaxear
em asfixia
o não respirar
na palavra dita
galaxear
o branco luz
em cosmo foco
em que se traduz
o que o brilho
já disse
galáxia
onde a ordem
é a desordem
do sentimento
em que
espremer-se
é o conforto
do inferno
mal dito
cito
galaxeando
em dormentes
feito céus
quentes e infidosos
trilhos

Oreny Junior

(ao poeta Haroldo de Campos, in memorian)

Fuso

e eu
neste confuso
fuso
perco-me
nas horas
lendo
correndo
o erário
contrário
horário
o rio é grande
fica além do norte
por sorte
a coordenada que sinto
cadastra o recinto
que pinto
a poesia da minha vida...
em feira de farinhas secas
e eu
neste confuso grito
corro ao encontro do longe
onde a bússola aponta
o atrás que sou
o hoje que fui
e eu
neste confuso sentimento
lento
cego
nego
o luso
em bandeiras e cordéis


Oreny Júnior

quinta-feira, março 05, 2009

Cora Coralina

cora
coral
corações
nações
em noções de poesia
ações nas mãos e nos gestos
da velha e corriqueira menina
cora
coral
coralina
poetisa que saiu dos becos
de uma velha cidade
para entrar nas brechas do meu ser
para perpetuar os brecht de meu deus
e os filhos do mundo
em cada amanhecer...

Oreny Júnior

domingo, março 01, 2009

Um lamento

lamento
por você não ter deixado
em meu peito
a marca
da estrada
que percorreste
gritando
uivando nos trilhos
nos 64928 dormentes
pisados
ensolarados
do movimento de 1951
entrego-te
a sacola
com a última canção
que fizemos
no último crepúsculo
véspera
de lua cheia
lamento
que entre nós
não exista sequer
lembranças
de dois passos
mal sucedidos
lamento meu amor
por a nossa vida
ficar resumida
em poesia biográfica
em desertos sem ecos
em livros sem páginas
lamento
lamento

Oreny Júnior

Mata branca

mata branca
alga do meu mar sertão
mata catingueira
hibernando nesse
verão
para florescer
em breve inverno
as flores
de gravetos cinza...sertão
em painéis
de marmeleiro.
nasceu
a rosa linda que tanto esperei
é...
a flor bela
do nosso mandacaru
mata branca
chicote de boi
gibão
arreio
e aboio
chegou a chuva
larguei o pranto
e vou cantar
o canto
sonhando na praia calma
da mata branca
hoje verde
com sorriso branco

Oreny Júnior

Moléculas

moléculas
em que me banho
em que beijo
em que me embebedo
para um porre sem cura
moléculas
de oceano
em sua geografia
moléculas d’agua
empossada
nessa baía
de mulher
moléculas
que em seu organismo
transforma-se em paixão
moléculas em grãos
em gotas
em milhões
em canções
de mergulhos
e mais mergulhos
onde o desconhecido
é a saída final

Oreny Júnior

Náusea



náusea
um sea...
em nau
num frágil
vômito
de palavras
em verbos
desversos
a palavra
é frágil
escorrega
como a insensatez
nausear
o mundo
nessa marola
profunda
ao encontro
do mar
nausear a fundo
sem engolir
o regresso
sea...
em nau
em náusea

Oreny Júnior

O dia em que um jovem rapaz desafiou o poder do clero

o dia em que uma criatura
desafiou o poder dos Bórgias
desafiou a maldade
o silêncio das crueldades
dos homens com falso celibato

num certo dia
essa sã criatura
mostrou as nádegas
para cinco criaturinhas
ainda virgens

cinco lindas criaturas
concorrendo a cargos
de donzelas serviçais
dos padres-homens
de sacos escrotais

a rebeldia desse jovem rapaz
quase pôs as ruínas
sua carreira de estudante
nesse frio colégio
de chãos sujos
com máculas
com nódoas eternas

esse dia ficou marcado
para esse jovem pescador
por desafiar o poder dos escrotos
fodiões das almas marianas

fodiões
foliões
pedófilos de anjos santos
entregando seus corpos
a troco de hóstias satânicas


Oreny Júnior

Se eu quisesse

o que se eu quis
se eu quisesse
ser-me-ia
não sei
bem melhor
ou mal pior
seria
se eu soubesse
que você
não quis
mas
você...
se quis
eu não sei
sonhei
que você quis
o que bem quisesse
seria
e
ria-me
rir-me
de ti
de mim
o mundo
rir
num só gesto
num só não

Oreny Júnior

Um olhar negro

um olhar negro
fosco
opaco
sobre a cinza cal
que demarcou
um espaço
que chamei de barraco surreal da paixão
um olhar em branco azul
sob um mar
em verde mar
onde me escondi
nas algas púbeas da paixão
um olhar
só um olhar
no vazio dessa poesia
que clamo de paixão

Oreny Júnior

O mar em Maria

mar que maria ia
mar que maria via
via de acesso
aos olhos
e a alma de maria
maria
em mar que ria
com a beleza
de maria
em maresias
sereia natural
naufragando
nadando
acenando
no mar
no cais de maria
maria ria
maria via
maria vinha
videira docinha
maria
maria
belo sonho
nesse
imenso céu
de oceano
água
embebendo maria
molhando maria
maria
maria minha
alga
floresta marinha
maria
lágrima de alegria
na criança
e meiguice
de maria
maria
mariazinha


Oreny Jr.

Vestido

mulher
só de vestido
vestida
de vestido
revestida de vestido
revista
na passarela da beleza
de vestido
mulher
só de vestido
sentada
pernas cruzadas
de vestido
podendo ser saia
porém
parecida com vestido
a mulher de vestido
o vento sorri
aplaude
pra depois liberar
aquela brisa
digamos
nordeste
mulher
só de vestido
depois
se estiver cansada
do vestido
desvista-se
e jogue o vestido
em cima de mim

Oreny Jr.

Poesiar

eu poesio
tu poesias
ele poesia
nós poesiamos
vós poesiais
eles poesiam

autor: conjugação natural do verbo poesiar