sábado, abril 30, 2011

láctea

rachas
minha
cabeça
ao
meio
feito
caracóis
em
pau
de
seringueira
deixando
o
leite
escorrer,
.
.
.

Oreny Júnior

sexta-feira, abril 29, 2011

felicidade geral

mautner
paêbirú

lula
paulo césar pinheiro
o importante é que nossa emoção sobreviva
massafeira
patativa a flor da pele
banda de pau e corda
flor de cactus
quinteto violado
teca calazans
elomar
nas barrancas do rio gavião
elino julião
o rabo do jumento
alceu, geraldo
brincando de água doce
as margens do velho chico
chico césar
no festival do forte em natal 1981
a lagoa de pitangui desconhecida
...
a felicidade era geral...

Oreny Júnior

sábado, abril 23, 2011

sexta-feira, abril 22, 2011

..meus melhores doces

.confeitos
..cocadas
...dindin's
..meus melhores doces

Oreny Júnior

balcão de bar

no balcão de bar
um papo
dezenas de verbos
quem sabe
um verso
um balcão de bar
histórias
estórias
pouco importa a veracidade
sim
o balcão de bar
cotovelo direito apoiado
e uma atenção
um toque
um violão
de balcão de bar
memórias
um choro
alegres lembranças
em um balcão de bar
um gole
um trago
um gosto
um beijo
em um balcão de bar
a saideira
que nunca termina
em um balcão de bar
até o próximo encontro
camaradas meus
neste mesmo
balcão de bar

Oreny Júnior

vida toda linguagem

Vida toda linguagem,

frase perfeita sempre, talvez verso,

geralmente sem qualquer adjetivo,

coluna sem ornamento, geralmente partida.

Vida toda linguagem,

há entretanto um verbo, um verbo sempre, e um nome

aqui, ali, assegurando a perfeição

eterna do período, talvez verso,

talvez interjetivo, verso, verso.

Vida toda linguagem,

feto sugando em língua compassiva

o sangue que criança espalhará - oh metáfora ativa!

leite jorrado em fonte adolescente,

sêmen de homens maduros, verbo, verbo.

Vida toda linguagem,

bem o conhecem velhos que repetem,

contra negras janelas, cintilantes imagens

que lhes estrelam turvas trajetórias.

Vida toda linguagem --

como todos sabemos

conjugar esses verbos, nomear

esses nomes:

amar, fazer, destruir,

homem, mulher e besta, diabo e anjo

E deus talvez, e nada

Vida toda linguagem,

vida sempre perfeita,

imperfeitos somente os vocábulos mortos

com que um homem jovem, nos terraços do inverno,

contra a chuva,

tenta fazê-la enterna - com se lhe faltasse

outra, imortal sintaxe

à vida que é perfeita

língua

eterna.

Mário Faustino

quinta-feira, abril 21, 2011

nelson rodrigues

(em memória do inesquecível tricolor, homem de teatro, nelson rodrigues...)

...a verdade incontestável é que ninguém ganha da forma como nós ganhamos. as vitórias dos outros são simples, quase sem graça (...) as nossas são cardíacas. as dos outros são previsíveis, esquecidas ao apito do primeiro jogo do próximo campeonato, as nossas são inesquecíveis (...) vão da extrema falta de perspectiva, do máximo sofrimento, da crueldade, ao êxtase, ao épico, ao apoteótico... tudo junto, quase sem fronteiras entre esses opostos"...

Nelson Rodrigues

segunda-feira, abril 18, 2011

mel da cal

sou o mel
da cal
sou cloreto
sal
sol
cimento
sou poeta
de nascimento
sou menino
sou guri
sou mendigo
sou melaço
renascimento
sou do porto
geni
órfão
de rua
sou o mel
da cal
sem teto
sem talento

Oreny Júnior

a fábrica do poema

sonho o poema de arquitetura ideal
cuja própria nata de cimento
encaixa palavra por palavra, tornei-me perito em extrair
faíscas das britas e leite das pedras.
acordo;
e o poema todo se esfarrapa, fiapo por fiapo.
acordo;
o prédio, pedra e cal, esvoaça
como um leve papel solto à mercê do vento e evola-se,
cinza de um corpo esvaído de qualquer sentido
acordo, e o poema-miragem se desfaz
desconstruído como se nunca houvera sido.
acordo! os olhos chumbados pelo mingau das almas
e os ouvidos moucos,
assim é que saio dos sucessivos sonos:
vão-se os anéis de fumo de ópio
e ficam-me os dedos estarrecidos.
metonímias, aliterações, metáforas, oxímoros
sumidos no sorvedouro.
não deve adiantar grande coisa permanecer à espreita
no topo fantasma da torre de vigia
nem a simulação de se afundar no sono.
nem dormir deveras.
pois a questão-chave é:
sob que máscara retornará o recalcado?

Waly Salomão

domingo, abril 17, 2011

lembranças...

...há muitos anos atrás, eu e meu irmão, quebramos um dos vidros da cristaleira, posta na sala da casa, da antiga quadra 51, na cidade da esperança...com a cristaleira quebrada, fugiram a louça, os copos, as histórias, restando conosco agora, somente a poeira da saudade...

Oreny Júnior

segunda-feira, abril 11, 2011

...para quem gosta de se empoeirar com estrelas

...galaxeando com a poetisa iwska isadora, onde fala "para quem gosta de se empoeirar com estrelas", bravo sua luz nessa terra argilosa, de ...ilhões de seres granulométricos, onde a quantidade de estrelas na constelação corresponde ao número de grãos de areia dessa cosmopoesia, digamos 75 septilhões... sem medo de errar, o mesmo número de versos na poesia cosmonáutica desse velho marinheiro... meu amor, perder-se na poeira de estrelas é se achar na eterna luminosidade do deus poético, do deus luz, assim: fiat lux, concebida isadora flor de lis...

Oreny Júnior

domingo, abril 10, 2011

pequenas lembranças de um homem comum

domingo!!!
vem a lembrança
quando papai mandava
eu comprar um galeto abatido na hora
lá na feira...
comíamos com feijão, farinha, arroz, salada de alface...
mamãe fazia com tanto gosto...
éramos felizes
hoje
só lembranças...

Oreny Júnior

sábado, abril 09, 2011

happy birthday to you

abre-se
abril
festejos
happy birthday to you
feliz aniversário
meu amor
abre-se
maio
flores
saudades
brindemos o antes
o agora e o depois...
happy birthday to you

Oreny Júnior

quinta-feira, abril 07, 2011

Ode à Cebola - Pablo Neruda

Cebola
Luminosa redoma
pétala a pétala
cresceu a tua formosura
escamas de cristal te acrescentaram
e no segredo da terra escura
se foi arredondando o teu ventre de orvalho.
Sob a terra
foi o milagre
e quando apareceu
o teu rude caule verde
e nasceram as tuas folhas como espadas na horta,
a terra acumulou o seu poderio
mostrando a tua nua transparência,
e como em Afrodite o mar remoto
duplicou a magnólia
levantando os seus seios,
a terra
assim te fez
cebola
clara como um planeta
a reluzir,
constelação constante,
redonda rosa de água,
sobre
a mesa
das gentes pobres.

Generosa
desfazes
o teu globo de frescura
na consumação
fervente da frigideira
e os estilhaços de cristal
no calor inflamado do azeite
transformam-se em frisadas plumas de ouro.

Também recordarei como fecunda
a tua influência, o amor, na salada
e parece que o céu contribui
dando-te fina forma de granizo
a celebrar a tua claridade picada
sobre os hemisférios de um tomate.
mas ao alcance
das mãos do povo
regada com azeite
polvilhada
com um pouco de sal,
matas a fome
do jornaleiro no seu duro caminho.
estrela dos pobres,
fada madrinha
envolvida em delicado
papel, sais do chão
eterna, intacta, pura
como semente de um astro
e ao cortar-te
a faca na cozinha
sobe a única
lágrima sem pena.
Fizeste-nos chorar sem nos afligir.

Eu tudo o que existe celebrei, cebola
Mas para mim és
mais formosa que uma ave
de penas radiosas
és para os meus olhos
globo celeste, taça de platina
baile imóvel
de nívea anémona

e vive a fragância da Terra
na tua natureza cristalina.

Pablo Neruda

segunda-feira, abril 04, 2011

...não atirem na poesia

...atiram na poesia como atiram em pássaros de arribação...
não matem a língua que vê...
não matem os olhos que falam...
não matem as mãos que pisam...
não atirem na poesia...
os pássaros choram...

Oreny Júnior