domingo, outubro 31, 2010

cansei...

cansei de ser poeta
em poesia ausente
onde você
sujeito dos meus textos
não tece mais
essa lã esquecida
cansei de ser poeta
em tempos vãos
onde os papiros
não mais respiram
a sujeira das nossas mãos
cansei de ser poeta
de clube de esquina
onde você sempre
faltou no melhor chopp
na melhor gargalhada
cansei de tanta virtualidade
quero o amor de mercearia
prego batido
ponta virada
cansei meu amor
ATENÇÃO PARA A CHAMADA
faltou!!!!!!!!

Oreny Júnior

sexta-feira, outubro 29, 2010

anjos...

anjos movem moinhos
passam páginas de livros
sopram ventos
usinam almas
anjos dão cartas
lavram palavras
papiramente
anjos caatingam veredas
no perfume dos
marmeleiros
dos juazeiros
anjos são escudeiros
anjos espantalham
roçados
na sertanidade
de minha alma

Oreny Júnior

quarta-feira, outubro 27, 2010

imaginação

siga-me
pois
pressinto
as pegadas
que deixaste
no recinto
e recito
a poesia
do faz
de conta
do
adedonha
a bola
de gude
é seu planeta
e eu
sua figurinha
carimbada

Oreny Júnior

domingo, outubro 24, 2010

ABC

ABC
ABC
ABC
como é grande
o meu amor
por você
ABC
ABC
ABC
alô deus
a frasqueira
lhe agradece senhor
ABC
ABC
ABC

Oreny Júnior

quarta-feira, outubro 20, 2010

um homem com uma dor

um homem com uma dor
é muito mais elegante
caminha assim de lado
como se chegando atrasado
andasse mais adiante

carrega o peso da dor
como se portasse medalhas
uma coroa um milhão de dólares
ou coisas que os valha
ópios édens analgésicos
não me toquem nessa dor
ela é tudo que me sobra
sofrer, vai ser minha última obra

Paulo Leminski
(1944-1989)

segunda-feira, outubro 18, 2010

graveto cinza

olha o graveto cinza
na floração de um poema
parece que morre
mas somente dorme
no sulco de um chão sertão
basta três pinguinhos d'agua
que os versos brotam
irradiando nossa imaginação
é fulô que cheira
puro fulô do mato
graveto cinza
mata branca
como é linda nossa caatinga
pau de umburana
xique xique
mel da cana
cana do canaviá
eita sertão velho
do eterno oswaldo lamartine
mata branca
que riqueza
minha varanda
é da dura massaranduba
e a minha rede
veio de lá
do algodão mocó
de cajazeiras a caicó
chega dona zefa
já comecei a chorar

Oreny Júnior

sexta-feira, outubro 15, 2010

ninando sonhos

desde menino
nino
palavras
embaladoras
de sonhos
afugento fantasmas
semeio sílabas
jogo-as pro ar
assim
"de afoito"
com as que caem
junto
em quebra cabeça
nesse
labirinto
emaranhado
mundo
da poesia

Oreny Júnior

quarta-feira, outubro 13, 2010

ceus...

os anjos sairam
dos meus ceus
nem todos os ceus
são azuis
deixem o sal
na minha boca
o sol na minha roupa
nem todo mar é vermelho
nem todos se arreganham
nem todos dizem amem
jurunas
terenas
potiguar
guarani
sting não promove a paz
raoni não conhece a maldade alheia
um souvenir
a troco de um xibiu
nem todo ceu é ceu
nem todo mar é mar
pero vaz mentiu
na escrota
imaginária poesia

Oreny Júnior

domingo, outubro 10, 2010

fulô natal

morena
se você
deixar eu olhar
nos seus olhos
eu faço um rabisco
no chão
e digo que é uma poesia
ou melhor
faço um rascunho
no seu coração
e digo que é amor
morena
dos olhos meus
flor jambeira
flor cancioneira
flor do seridó
ao litoral
minha flor
natal

Oreny Júnior

quarta-feira, outubro 06, 2010

madame frigidaire

colchas
retalhos
chenille
vazilhas
polietileno
tupperware
madame
frigidaire
cacarecos
louças
canecos
pinicos
desnecessaire
bijouterias
cosméticos
domésticas
rosto branco
com talco
e sabonete
palmolive
absorvente
pano encharcado
com o sangue
de um sertão
sem horizonte
mamãe
era madame
frigidaire
do cheiro verde
aos din din's
do puro coco
queimado
prateleira
chão de cimento
queimado
molhado
com os banhos
dos passarinhos
assim
era mamãe
frigidaire
necessaire

Oreny Júnior

segunda-feira, outubro 04, 2010

eita sertão...

eita sertão
mais que bão
bão sô
cinco hora da manhã
a muié fez o fogo
um cafezin
quentin
quentin
eita sertão
mió num pode sê
uma reza
a pade ciço
outra a frei damião
meia cuía de farinha
e rapadura no borná
e vou mimbora catar chão
lá eu sou amigo do rei
planto mio
feijão de corda
jirimum
a água é de cacimba
barro puro
docinha
docinha
o sargado do almoço
é um preá
ou um tatú
mei dia
sol a pino
chega por hoje
vou mimbora pro sertão
lá eu sou amigo do rei
eita sertão
mais que bão
mió num pode sê
galo canta
macaco assuvia
eita sertão
bão
bão que só
de bixiga taboca
a três no talo
uma sueca
fumo de rolo
e uma goipada
vixe cumpade
que bufa pôde
eita sertão
mió num pode sê...

Oreny Júnior

domingo, outubro 03, 2010

nenhum canto...

nenhum canto
é melhor que o meu canto
eu canto meu quintal
meu chiqueiro
meu varal
minha cerca de pau a pique
eu canto
o canto da graúna
do xexéu de bananeira
do sabiá gongá
nenhum canto
é melhor que o meu canto
eu canto meu quintal
a poça d'agua correndo
pro bananal
nenhum canto
é melhor que o meu canto
sou xodó de motorista
sou o rabo do jumento
sou luís de seu gonzaga
nenhum canto
é melhor que o meu canto
quando espiro
digo saúde
quando me espanto
falo oxente
nenhum canto
é melhor que o meu canto
só sabe disso
quem sente a saudade do seu canto

Oreny Júnior

sábado, outubro 02, 2010

quatro contos de palavras

quatro contos de palavras
o troco eu quero de poesia
pode embrulhar
que é pra viagem
no pacote escreva
FRÁGIL
palavras se quebram
evaporam-se
no trago da eternidade
...e o verbo se fez carne
quatro contos de palavras
o troco me traga
de quintana
de bandeira
de joão antonio
de torquato
quatro contos de poesia
o troco me traga de palavras

Oreny Júnior